Estranha Mente Minha

Apenas palavras soltas ao vento sem direção nem sentido.

Aquilo que poderia nem ter sido escrito dói, faz sangrar, tira todo o sentido, ao mesmo tempo que conforta, que pode parecer um rumo que não existe... Toda uma vida temendo psicólogos, não querendo ir por se sentir um louco perto deles, mas a saída se fechou, havia um muro que eu jamais conseguirei pular sozinho no fim da reta...

Pela terceira vez a luta para se manter vivo foi cruel, pela terceira vez ter que fazer uma escolha, mas dessa vez foi longe demais, ao ponto de tirar todos os remédios das cartelas para tomar de uma vez com uma garrafa de vodka, tudo chegou a ser preparado como nunca foi, tudo foi planejado para ser executado, não restava saída e o pior, nem tinha um motivo específico, apenas não queria mais ficar aqui, não aguentava mais ficar aqui...

Se não fosse aquela força sobre-humana de pegar apenas o cartão de ônibus e o celular e ir para a casa da minha protetora, jamais isto seria escrito, e jamais, talvez, alguém entenderia, ao mesmo tempo em que muitos tentariam entender. Foi cruel a batalha daquela noite de 4 de setembro, e não teria conseguido sozinho e não lutasse naquele segundo para sair e buscar ajuda...

Foi minha pequena Shirley quem me protegeu, quem me abraçou e começou a chorar desesperada pelo que eu contei que estava prestes a fazer, doeu demais ver o que poderia ter feito com ela naquele dia... e com muitos.. Eu de verdade não sabia o que pensar, o que fazer... como agir?

Naquele dia ela me cuidou como há muito tempo ninguém me tratava, me fez falar com todos meus amigos mais importantes (e teve o cuidado de não indicar aqueles que me fariam sofrer), me mostrou que tinha muita gente que se importava, como jamais pensei... Me colocou em seu colo, me fez carinho e me fez jurar que no dia seguinte logo cedo eu procuraria ajuda... Me abraçou a noite toda, para que eu ficasse bem, que falta eu sentia de um pouco de carinho e atenção...

No outro dia estava relutante em marcar psicólogo e um único telefonema me convenceu... a doce e pequena Nath, aquela criancinha loira, dos olhos verdes e que até hoje demonstra aquele carinho especial que só criança sabe dar... falar com ela me deu forças, me deu coragem de ir em frente, de buscar... Ainda não sabia disso, mas outros amigos também já sabiam o que tinham acontecido e mesmo sendo uma quinta, todos fizeram questão de aparecer na casa da minha protetora para tomar café junto comigo, eu tinha mais o que temer...

Quinta-feira, 5 de setembro, as 9h da manhã, já estava com minha consulta marcada com a Dra. Mônica... e no Domingo minha pequena Shirley fez questão de vir até minha casa para garantir que na segunda eu iria, e fui, conversei muito com aquela psicóloga que embora eu tanto temesse, me passou confiança com seu sorriso meigo, sua calma na fala, sua simpatia... contei tudo para ela e como resposta recebi aquilo que já sabia.. Terei que passar por alguns exames e consultas para confirmar meu quadro de depressão... a suspeita inicial de depressão unipolar e/ou reativa, ainda é difícil dizer sem os exames de sangue que medirão alguns neurotransmissores e hormônios e algumas terapias...

Eu sempre tive sinais que eu nem sabia que eram sintomas de depressão, mas que muitos notavam em mim e apenas me julgavam por isso... irritação constante, falta de ânimo e prazer em pequenas coisas, problemas para dormir e para comer, engordar, cansaço constante para tudo... além de coisas mais psicológicas... falta de concentração, sensação constante de culpa mesmo quando não estava errado, de ódio de si próprio, de ser um inútil, um imprestável, sensação de inferioridade constante, sensação de solidão, de abandono, de ter sido esquecido, falta de esperança para tudo e principalmente vontade de morrer... todo o tempo, mesmo que eu mesmo tivesse que providenciar isso...

Não foi fácil ouvir aquela confirmação e ouvir a médica passando aquela lista de itens e eu respondendo "sim" a tudo, eu queria chorar mas temia a forma como a Dra. Mônica veria aquilo... Ela conversou com a Shirley também, a única resposta que tive dessa conversa delas foi "só umas perguntas", estou com muito medo do andamento disso tudo, medo de ter que tomar remédios, de ter minha vida mais mudada do que já é por causa do rim... mas agora não vou mais abandonar aquelas pessoas que cuidaram de mim quando precisei, não vou ver mais a pessoa que mais demonstra se preocupar comigo, que mais cuida de mim chorando daquela forma, sem conseguir respirar direito, soluçando, me abraçando como se daquilo dependesse a vida de nós dois...

Minha mente começa a deixar de ser tão estranha para mim, pena que o estou conhecendo não seja tão bom...

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